Demonstrações culturais alusivas ao Dia da Consciência Negra foram expostas pelos alunos, em ambos os períodos letivos desta quinta-feira (30.11), na Escola Estadual Domingos Briante, em São José do Rio Claro (315 quilômetros a Médio-Norte de Cuiabá).

O projeto compõe o cronograma ministrado pelos educadores há três anos, em que o eixo temático seja a diversidade e inserção consciente do negro na sociedade, voltados aos estudantes do terceiro ciclo do ensino fundamental, que segue do sétimo ao nono ano, atendidos pela instituição.

Foram apresentadas expressões artísticas variadas, com foco nas matrizes africanas, tais como danças, músicas, teatros, monólogos, capoeira, poesias, pinturas, trajes, máscaras e artesanatos. O objetivo é promover valores éticos, ampliando o debate educativo da herança biológica sobre a identidade, estética, História (escravidão, lutas de classes, políticas sociais, acesso à educação superior e emprego), bem como a participação dos afrodescendentes nas matérias e discussões de relevância para o desenvolvimento da sociedade, de modo a valorizar e resgatar a autoestima dos próprios alunos.

Trajada com saia rodada, brincos e balangandãs, a aluna do oitavo ano, Bianca Rafaela da Silva Pereira (14), apresentou uma dança embalada pela canção “O Que É que a Baiana Tem?” – composta por Dorival Caymmi e gravada por Carmen Miranda para o filme Banana da Terra (1939).

Para a estudante, a abordagem da proposta valorizou desde a História às representações culturais de raízes africanas, de modo a fortalecer o empoderamento do negro na inserção social.

“Acho importante o tema trabalhado durante as aulas dos últimos meses. Isso porque o racismo e o preconceito contra pessoas que têm a pele escura ainda estão muito presentes nos dias atuais. Também já fui uma vítima desse preconceito, incomodaram muito os xingamentos por causa do meu cabelo, da minha cor. Não foi fácil, mas, enfim, superei com apoio e muita autoconfiança”, revelou.

Conforme explanou a professora de Língua Portuguesa e coautora do projeto, Neide Lopes dos Santos, pretende-se, com as atividades, abominar as agressões psicológicas vivenciadas no ambiente escolar e, por consequência, do convívio externo. Sendo negra e nordestina, a mesma relatou suas próprias vivências para exemplificar as ações metodológicas.

Foto: Luciane Carvalho

“Negros são vistos na sociedade de maneira depreciativa, seja no mercado de trabalho, apontados aos cargos braçais ou como menos capacitados que os demais de outras tonalidades de pele. Somos vistos com desconfiança quando conquistamos bens pelos próprios méritos. O racismo mata, deprime, exclui, empobrece o universo cultural do país. Penso que seja de fundamental importância trabalhar a autoestima com os nossos alunos, mostrar que, ainda que hajam obstáculos, eles são sim capazes de exercer qualquer posição de destaque na sociedade”, ressaltou.

A também professora de Língua Portuguesa e coautora do projeto, Rosemeire da Cunha Scarpat, completou que, para expurgar o preconceito enraizado, é necessário que haja tal debate com os discentes para os municiar contra rasas falácias excludentes.

“Observamos a propagação de um lado muito negativo do negro, seja nas mídias, com reportagens depreciativas, as quais reportam à criminalidade, ou mesmo nos livros didáticos, que preponderam a abordagem da escravidão e marginalidade. Aí é o nosso gancho em linguagem, por meio dos debates, dos seminários e aflorar o lado bom, das lutas, dos desafios e conquistas. Assim, focalizamos na discussão o contexto para promover a consciência de que somos todos iguais, não há diferenças, o respeito é primordial para convivência harmônica”, finaliza.

CONSCIÊNCIA NEGRA

Instituído em 20 de novembro de 2011, por meio da Lei nº 12.519, o Dia da Consciência Negra e Dia Nacional de Zumbi já figurava no calendário escolar, estabelecido pelo projeto Lei nº 10.639, no dia 9 de janeiro de 2003, que versa sobre a inclusão no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática História e Cultura Afro-Brasileira.

A data foi escolhida em memória da morte de Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares e símbolo da resistência à escravidão, no ano de 1695 e é considerado por historiadores uma conquista dos movimentos populares sobre a crítica quanto a benevolência da Princesa Isabel em abolir a escravatura, ao assinar a Lei Áurea em 13 de maio de 1888.

Para o presidente da Academia Paulista de Letras Jurídicas e do Conselho Superior de Estudos Avançados da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Ruy Martins Altenfelder Silva, o fato de cunho histórico ocorreu porque, apesar de oficialmente “livres”, os negros sempre resistiram, lutaram contra a opressão e as injustiças advindas da escravidão. Exemplo disso “são as recorrentes discussões sobre cotas, que ganharam o Congresso e surgiram normas legais para promover a inclusão dos afrodescendentes no mercado de trabalho e nas universidades, de maneira a refletir a composição multirracial da população diante das consequências da desigualdade socioeconômica que continua a punir as camadas mais pobres”, argumenta.

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